terça-feira, 15 de outubro de 2013

Poema: "A velhice" - Olavo Bilac


                   
                 
    
 A Velhice 
Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores moças, mais amigas, 
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres da fome e de fadigas: 
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
 E os amores das aves tagarelas.


Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo. Envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem,


Na glória de alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem!

                                                                         Olavo Bilac

Poesia: "Os velhos" - Carlos Drummond de Andrade

Os VelhosTodos nasceram velhos — desconfio. 
Em casas mais velhas que a velhice, 
em ruas que existiram sempre — sempre 
assim como estão hoje 
e não deixarão nunca de estar: 
soturnas e paradas e indeléveis 
mesmo no desmoronar do Juízo Final. 
Os mais velhos têm 100, 200 anos 
e lá se perde a conta. 
Os mais novos dos novos, 
não menos de 50 — enorm'idade. 
Nenhum olha para mim. 
A velhice o proíbe. Quem autorizou 
existirem meninos neste largo municipal? 
Quem infrigiu a lei da eternidade 
que não permite recomeçar a vida? 
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade 
de ser também um velho desde sempre. 
Assim conversarão 
comigo sobre coisas 
seladas em cofre de subentendidos 
a conversa infindável de monossílabos, resmungos, 
tosse conclusiva. 
Nem me vêem passar. Não me dão confiança. 
Confiança! Confiança! 
Dádiva impensável 
nos semblantes fechados, 
nos felpudos redingotes, 
nos chapéus autoritários, 
nas barbas de milénios. 
Sigo, seco e só, atravessando 
a floresta de velhos. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Boitempo'